Tráfico sexual – Entrevista * Gayle Rubin com Judith Butler

Gayle Rubin é uma antropóloga que escreveu grande 
número de artigos muito influentes, entre os quais “The Traffic in 
Women: Notes on the ‘Political Economy’ of Sex”, “Thinking Sex”, 
“The Leather Menace” e “Misguided, Dangerous and 
Wrong: An Analysis of Anti-Pornography Politics”. Em breve a 
University of California Press vai publicar uma coletânea de 
ensaios seus. Atualmente ela está escrevendo um livro baseado 
numa pesquisa etnográfica e histórica sobre uma comunidade de 
homens gays leather
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 de San Francisco. 
Rubin é militante do movimento feminista desde o final da 
década de  1960, e teve intensa atuação na política gay e      
lésbica por mais de duas décadas. Ela foi uma crítica apaixonada 
do movimento contra a pornografia e da agressão às         
minorias sexuais. Seu trabalho apresentou uma série de   
sugestões metodológicas para os estudos do feminismo e do 
homosssexualismo masculino que  estabeleceram algumas balizas 
no processo de desenvolvimento de ambos os campos de estudo.


JB: O motivo pelo qual desejo fazer esta entrevista é que 
algumas pessoas entendem que você desenvolveu a metodologia 
para a teoria feminista, e depois a metodologia para os estudos 
sobre lesbianismo e sobre os gays. E acho que seria interessante, 
para que as pessoas pudessem entender a relação entre esses dois 
campos, que elas soubessem como você passou de uma posição 
em “The Traffic in Women” para outra posição em “Thinking Sex”. Seria interessante também ouvir um pouco sobre o tipo de 
trabalho que você está fazendo agora. Assim, pensei em começar 
por um dos começos, isto é, “The Traffic in Women”, e pedir-lhe 
que discorra um pouco sobre o contexto em que você o escreveu, 
e também perguntar quando você começou a se distanciar das 
idéias que expôs naquele trabalho. 


GR: Bem, acho que tenho uma idéia diferente sobre a 
relação que existe entre esses escritos, o pensamento feminista e os estudos sobre homossexualismo. “Traffic in Women” tem sua 
origem nos primórdios da segunda onda do feminismo, quando  muitas de nós que tínhamos atuado no final da década de  1960
estávamos tentando fazer uma idéia de como pensar e entender a  opressão das mulheres. O ambiente político sofria o impacto da New Left, principalmente o movimento contra aguerra e a 
oposição ao imperialismo militarizado dos  EUA. O paradigma 
dominante entre os intelectuais progressistas era o marxismo, em 
várias formas. Muitas das feministas dos primórdios dessa segunda 
onda vieram da  New Left e eram, de um modo ou de outro, 
marxistas. Acho que não podemos entender plenamente esse 
momento do feminismo sem entender sua relação estreita, 
embora conflituosa, com a política da New Left e com estruturas 
intelectuais marxistas. Há um imenso legado marxista no 
feminismo, e o pensamento feminista tem uma grande dívida com 
marxismo. Em certo sentido, o marxismo permitiu que as pessoas 
levantassem toda uma série de questões que o próprio marxismo 
não podia responder satisfatoriamente. 

O marxismo, independentemente do grau em que foi 
modificado, parecia incapaz de entender os temas da diferença de 
gênero e da opressão das mulheres. Muitas de nós lutávamos 
contra esse quadro dominante – ou no interior dele – para fazê-lo 
funcionar ou para entender porque não funcionava. Fui uma das 
muitas que finalmente concluíram que só podíamos avançar 
dentro de um paradigma marxista, que ele era útil, mas ao mesmo 
tempo tinha limitações no que diz respeito a gênero e sexo

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http://www.scielo.br/pdf/cpa/n21/n21a08.pdf

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